sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Drogas e furtos atormentam moradores de Pipa

A falta de políticas de governo no combate às drogas na região costeira do Estado está transformando o segundo destino turístico estadual num reduto de traficantes e usuários de drogas. A praia de Pipa, famosa por suas paisagens naturais, têm sua beleza ofuscada pelas drogas. O comércio de produtos ilícitos na cidade é diário, sendo mais evidente durante à noite quando a rua principal fica lotada com turistas e nativos. É possível comprar um pedra de crack por R$ 5.

“A Secretaria Estadual de Segurança é consciente das nossas necessidades. Já estive três vezes com o secretário expondo as necessidades de Pipa e nada tem melhorado”, comenta o prefeito de Tibau do Sul, Edmilson Inácio. O prefeito complementa que não há um plano específico para o combate ao tráfico de drogas, além da polícia só receber reforços sazonalmente. As delegacias das polícias civil e militar funcionam em condições precárias.

A delegacia da polícia civil funciona num prédio pequeno construído pela ex-governadora Wilma de Faria ao lado de uma escola de educação infantil. O prédio está sem manutenção, os equipamentos eletrônicos não funcionam e uma das celas é usada como depósito. Na cela disponível para ser utilizada para prisão de algum elemento, não há luz elétrica, a janela é grande o suficiente para que armas sejam entregues ao bandido e o colchão que existe está sujo e sem condições de uso.

Um funcionário da delegacia que pediu para não ser identificado, disse que há um descaso generalizado em relação à segurança na região de Tibau do Sul, onde se inclui Pipa. A delegacia atende, além da praia, mais nove vilarejos. A maioria dos furtos e arrombamentos que ocorrem em Pipa é feita por consumidores de drogas para alimentar o vício. Porém, para o funcionário da delegacia existem outros motivos que condicionam as pessoas a cometerem os furtos.

Recentemente, a residência da médica do município foi arrombada por dois elementos encapuzados e com armas em punho. Ela e uma amiga foram rendidas e ameaçadas de morte por um dos marginais, enquanto o outro fazia a varredura nos objetos de valor da médica. “Eles me ameaçaram de morte com uma arma nas nossas cabeças. Me mudei para Pipa há cinco meses e jamais pensei em passar por isso. Ainda não me recuperei do susto, estou com medo e tenho crises de pânico e pensei em voltar para Belo Horizonte”, desabafa a médica mineira Renata Alvarenga.

Delegacia não tem efetivo suficiente nem estrutura

Durante a visita da equipe da TRIBUNA DO NORTE à delegacia da polícia militar, um carro de placas MNF-5273 Rio Tinto (PB) acabara de ser apreendido. Conduzido pelo paraibano Salatiel Clemente, 31 anos, o carro foi abordado quando os policiais perceberam uma atitude suspeita do motorista e de sua esposa, que estava no banco do carona. Os policiais vistoriaram o veículo e encontraram resquícios de cocaína num prato de porcelana, um papelote de maconha dentro de uma caixa de bijuterias e equipamentos eletrônicos provenientes do roubo à casa da médica.

O paraibano assumiu o consumo da droga e negou que o celular, o modem e o carimbo médico encontrados pelos policiais pertencessem à médica. “Eu fui numa festa em Piau e deu vontade de cheirar. Comprei o pó por R$ 20 e cheirei no prato”. Com a esposa de Salatiel, a polícia recuperou o aparelho celular que havia sido roubado de Renata, dias atrás. “Meu marido comprou esse aparelho na feira de Goianinha por R$ 200 e me deu”, disse Rita de Cássia, 28 anos. Além das drogas e dos objetos roubados, o casal portava uma quantia em dinheiro, cujo valor não foi revelado. Até a saída da equipe da TRIBUNA DO NORTE da delegacia, os procedimentos de flagrante não tinham sido feitos pelo delegado. O delegado e os policiais moram em Natal e trabalham na praia, o que dificulta a ação emergencial da equipe.

O prédio da delegacia da polícia militar funciona numa casa alugada pela prefeitura que não dispõe de nenhuma estrutura de segurança. “Não temos estrutura para trabalhar”, comenta o sargento Inácio. O efetivo da polícia militar para atender 10 comunidades é de 24 policiais e nenhum deles fala inglês ou outro idioma, o que facilitaria no diálogo com os turistas vítimas de furtos.

O tráfico de drogas comumente ocorre nas ruelas e becos afastados do centro, onde os policiais não costumam fazer ronda. Um grupo de três turistas ingleses foi questionado se existia realmente o tráfico de drogas na cidade e eles confirmaram que sim, inclusive que é fácil comprar drogas por um preço barato.

Os nativos de Pipa cobram ações mais efetivas do governo municipal e estadual. “O tráfico de drogas e o consumo de crack aumentou muito nos últimos anos. É complicado conviver com essa realidade e não ter perspectiva de mudança”, afirma Márcia Nascimento que coordena uma ONG no município.

A ONG Núcleo Ecológico da Pipa está promovendo uma passeata pela paz amanhã às 17h na Praça dos Pescadores, centro. O movimento chamado de Acorda Pipa tem o objetivo de reunir turistas e nativos para uma ação conjunta em favor da segurança da praia.

A população quer, com este evento, chamar atenção do poder público para o problema do consumo do crack e de outras drogas na cidade. “A praia precisa de atenção por parte dos governantes. Temos um problema de segurança pública que precisa ser resolvido”, afirma a organizadora da passeata, Márcia Nascimento.

A organização solicita que os interessados em participar do ato se vistam de branco e se concentrem pontualmente às 17h em frente à praça. Após a passeata e o discurso dos organizadores, haverá apresentações culturais e artísticas.